quarta-feira, 12 de novembro de 2008




Pontos de vista

Os sinais de pontuação estavam quietos dentro do livro de português quando estourou a discussão.
- Esta história já começou com um erro - disse a Vírgula.
- Ora, por quê? - perguntou o Ponto de Interrogação.
- Deveriam me colocar antes da palavra “quando” - respondeu a Vírgula.
- Concordo! Disse o Ponto de Exclamação. - O certo seria: “Os sinais de pontuação estavam quietos dentro do livro de Português, quando estourou a discussão”.
- Viram como eu sou importante? - disse a Vírgula.
- E eu também - comentou o Travessão. – Eu logo apareci para o leitor saber que você estava falando.
- E nós? - protestaram as Aspas.
- Somos tão importantes quanto vocês. Tanto que, para chamar a atenção, já nos puseram duas vezes neste diálogo.
- O mesmo digo eu - comentou o Dois Pontos. - Apareço sempre antes das Aspas e do Travessão.
- Estamos todos a serviço da boa escrita! - disse o Ponto de Exclamação. - Nossa missão é dar clareza aos textos. Se não nos colocarem corretamente, vira uma confusão como agora!
- Às vezes podemos alterar todo o sentido de uma frase - disseram as Reticências. - Ou dar margem para outras interpretações...
- É verdade – disse o Ponto. – Uma pontuação errada muda tudo.
- Se eu aparecer depois da frase “a guerra começou”- disse o Ponto de Interrogação – é apenas uma pergunta, certo?
- Mas se eu aparecer no seu lugar – disse o Ponto de Exclamação – é uma certeza: “A guerra começou!”
- Olha nós aí de novo – disseram as Aspas.
- Pois eu estou presente desde o comecinho – disse o Travessão.
- Tem hora em que, para evitar conflitos, não basta um Ponto, nem uma Vírgula, é preciso os dois – disse o Ponto e Vírgula. – E aí entro eu.
- O melhor mesmo é nos chamarem para trazer paz – disse a Vírgula.
- Então, que nos usem direito! – disse o Ponto Final. E pôs um fim à discussão.

Conto de João Anzanello Carrascoza

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